O tempo cura ou apenas silencia?
- Luciana Almeida

- 8 de ago.
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A noção de cura pelo tempo, tão repetida no senso comum, carrega uma esperança: a de que o sofrimento psíquico se dissolva com o passar dos dias.
Na perspectiva psicanalítica, no entanto, o tempo por si só não cura. O que pode operar uma transformação é o tempo articulado à palavra: é o tempo do sujeito, que se constitui ao dar sentido ao seu sofrimento, nomear suas angústias, elaborar suas perdas.
Freud já apontava que o recalque não desaparece com o tempo, ele retorna, muitas vezes, na forma de sintomas.
Lacan, por sua vez, nos lembra que o inconsciente é estruturado como linguagem: só o que é dito, simbolizado, pode ser elaborado.
É preciso dizer.
É preciso desejar saber.
É preciso se escutar.
O tempo sem elaboração apenas silencia, não transforma.
O sintoma, calado hoje, pode gritar amanhã, expressando aquilo que o sujeito não conseguiu dizer. É o simbólico falhando, e o corpo assumindo a mensagem.
Freud nos mostrou que o sintoma é mensagem. Lacan vai além: quando o simbólico falha, o corpo é convocado a dizer.
Quando a dor não encontra palavra, o corpo vira palco.


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