É o vazio que dá espaço
- Luciana Almeida

- 8 de ago.
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Na experiência subjetiva, o vazio e a angústia são muitas vezes confundidos. Ambos provocam desconforto, paralisia, inquietação. Mas na escuta psicanalítica, eles têm naturezas distintas, ainda que profundamente entrelaçadas.
O vazio não é apenas ausência, é estrutura
Na psicanálise, especialmente a partir de Lacan, entendemos que somos seres constituídos pela falta. Aquilo que nos escapa e, paradoxalmente, nos move.
O sujeito só se constitui como tal, a partir de uma perda: a perda do objeto, a perda do mito da completude. Esse vazio, então, não é patológico, é condição de subjetivação.
Já a angústia surge como uma resposta intensa diante desse vazio, quando ele não pode mais ser simbolizado. Quando a linguagem falha, o sentido se rompe e o sujeito se depara com um buraco que não se deixa narrar.
Esse afeto, então, não tem objeto definido. É vivido no corpo como excesso, como ameaça sem nome.
A angústia aparece quando o vazio não encontra lugar. Quando há um silêncio sem escuta. Um desejo sem possibilidade de se enunciar. Uma dor sem tradução.
Na clínica, o trabalho não é eliminar o vazio, mas dar-lhe contorno simbólico.
A angústia, nesse sentido, pode ser um sinal de que algo precisa ser dito, nomeado, elaborado.
Ela aponta para uma borda que se desfaz e convida à construção de novas bordas.
O vazio precisa ser acolhido não como falência, mas como possibilidade de criação.
E a angústia escutada não como sintoma a ser silenciado, mas como um apelo ético do sujeito por espaço, por palavra, por escuta.
Nem sempre o vazio é sinal de queda
Às vezes, ele é espaço de travessia.
Espaço onde o desejo pode finalmente sussurrar, sem o ruído da pressa ou do excesso.
E, talvez, o maior gesto de cuidado consigo seja justamente esse:
dar-se espaço para sentir, escutar, elaborar e desejar.


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